segunda-feira, 20 de junho de 2011

O PODER DAS PALAVRAS SOBRE A SAÚDE
O trabalho dos americanos Bob Ader e Nick Cohen foi fundamental para elucidar ainda mais essas inter-relações. Eles mostraram que, mediante um estímulo externo, o sistema imunológico pode ser "ensinado a se anular". Ader e Cohen misturaram sacarina a um remédio anticâncer, que naturalmente baixa as defesas do organismo, e administraram o coquetel em ratos de laboratório. Depois de repetir o procedimento diversas vezes, eles ofereceram apenas sacarina às cobaias. Pois bem, mesmo sem a adição do medicamento, elas registraram uma baixa no sistema imunológico. Seu cérebro obedeceu a uma sugestão, obtida por meio de condicionamento. A conclusão dos pesquisadores: se algumas conexões de neurônios podem enfraquecer as defesas do corpo, existem aquelas que também servem para aumentá-las. Com esse experimento, explicou-se, por via inversa, o efeito placebo, descrito pela primeira vez cerca de três décadas antes. O efeito placebo é a melhora do paciente tratado à base de remédios inócuos. "Uma série de fatores propicia o efeito placebo. De todos eles, o mais importante é a expectativa do paciente", disse o médico canadense Grant Thompson, professor da Universidade de Ottawa e autor do livro The Placebo Effect and Health, em entrevista à repórter Giuliana Bergamo. "Não é uma pílula de farinha ou de açúcar que faz um paciente melhorar, e sim o que esse paciente espera dela. Diversos estudos já mostraram que, quando se acredita na eficácia do tratamento, ele funciona muito mais."
Uma pesquisa fascinante acerca das benesses das emoções positivas sobre a saúde orgânica foi conduzida por estudiosos da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos. Por quinze anos, eles acompanharam 678 freiras, com idade acima de 75 anos. Interessados em estudar a doença de Alzheimer, avaliaram a história pessoal e médica de cada uma delas. Ao analisarem diários escritos pelas religiosas quando elas eram bem jovens, os pesquisadores perceberam que as que utilizavam em seus relatos uma maior quantidade de palavras ligadas a emoções positivas – como felicidade, amor, gratidão e esperança – haviam chegado com mais saúde à velhice do que as que costumavam usar grande número de vocábulos com significados negativos – como tristeza, indecisão e vergonha.

O "EU INTERIOR" APAGADO NO LABORATÓRIO
Para o reconhecimento da psicossomática, deu-se um passo decisivo na década de 90, com o surgimento de máquinas capazes de flagrar o cérebro em pleno funcionamento. Graças a esses aparelhos, conseguiu-se verificar que as emoções e as sensações são fenômenos físicos, que ocorrem em lugares específicos do cérebro. Para desilusão dos metafísicos, a ligação mente/corpo não é etérea, mas quase palpável. Na década de 90, o físico inglês Francis Crick (1916-2004), o gênio da dupla Crick-Watson que descobriu a forma de hélice do DNA, deu um passo gigantesco na aproximação de corpo e mente. Crick classificou os pensamentos e emoções de acordo com as ondas cerebrais que produziam. A alegria e a tristeza, o doce e o amargo, o claro e o escuro são sensações que produzem registros de ondas cerebrais tão distintas quanto as impressões digitais. De todas as medidas de Francis Crick, a mais estupenda foi a da freqüência da onda que o cérebro dos seres humanos utiliza para definir a consciência – ou seja, a individualidade, o dom de saber que você é você e o outro é o outro. A autoconsciência, descobriu Crick, é expressa por ondas cerebrais de 40 hertz. Em experimentos de laboratório Crick conseguiu algo antes inimaginável. Com a ajuda de eletrodos, o gênio do DNA banhou o cérebro de alguns voluntários com ondas de 40 hertz de picos invertidos. As ondas simétricas que os eletrodos de Crick injetaram no cérebro dos voluntários anularam as ondas da autoconsciência. Resultado: os voluntários continuaram com as mesmas habilidades mentais que possuíam (jogar xadrez ou falar idiomas, por exemplo), mas não mais sabiam quem eram. Seu "eu interior", com toda a riqueza de amores, emoções e auto-estima, foi momentaneamente anulado por um mero impulso elétrico externo.
Os pesquisadores estão empenhados agora em deslindar melhor as relações entre o sistema nervoso central e o imunológico e endocrinológico. Eles não têm mais dúvidas de que a comunicação de hormônios, moléculas e células de defesa pode sofrer influência direta da psique. Erros nessa comunicação podem levar ao surgimento de doenças auto-imunes, como alergias, e infecções de todos os tipos. Também podem causar fobias, pânico e depressão. "Nós estamos começando a entender a relação de interdependência entre o cérebro e o sistema imunológico – como eles ajudam um ao outro a se manter equilibrados e como o mau funcionamento entre ambos produz doenças", disse a VEJA a médica americana Esther Sternberg, uma das principais pesquisadoras em medicina psicossomática, autora do livro The Balance Within: the Science Connecting Health and Emotions (em português, algo como O Equilíbrio Interno: a Ciência Conectando a Saúde e as Emoções).
Entre as alternativas psicológicas que comprovadamente ajudam a evitar doenças e aceleram a recuperação física estão a psicanálise, a meditação e as terapias cognitivas comportamentais. Estas últimas sofreram impulso nos últimos anos, pelo fato de proporcionarem bem-estar de maneira rápida. O que importa, para seus seguidores, é ensinar o paciente a evitar a cadeia de reações emocionais que leva o corpo a responder com sintomas físicos. A meditação, por sua vez, visa a acalmar a mente das atribulações cotidianas. O estudo mais recente nesse campo submeteu pacientes cardíacos à técnica e comprovou que eles se beneficiaram de uma redução da pressão sanguínea. A hipótese é que a meditação modula a resposta do sistema nervoso ao stress. Nenhuma dessas duas técnicas, no entanto, age na raiz dos problemas psíquicos – ou seja, a história pessoal de cada um e os conflitos causados por ela. Esse papel cabe à psicanálise, que demanda tempo, disposição e dinheiro para que o paciente se aventure na tortuosa via do autoconhecimento.
O caminho para a psicossomática está aberto em definitivo, graças à associação entre médicos e psicólogos. Mas, apesar de todas as descobertas, ainda há muito por trilhar. Uma doença não é um episódio único. É fruto de uma história de vida. Sabe-se que há fatores ambientais e genéticos que são decisivos no aparecimento de uma doença – entre eles, idade, fumo, obesidade, sedentarismo. Qual o peso, contudo, de um luto no sistema imunológico de uma pessoa? Como medir quanto uma separação conjugal debilita o organismo? O poder da sugestão mental sobre a saúde foi objeto de uma frase famosa do escritor francês Stendhal, autor do clássico O Vermelho e o Negro. Ele afirmou que "nomear uma doença é apressar-lhe o progresso". O contrário – nomear uma cura para que a saúde se restabeleça – é uma hipótese que pertence tão-somente ao terreno da religião. O que os cientistas acreditam é que, num futuro não tão distante, será possível auscultar o cérebro para evitar que doenças atravessem a alma e desintegrem o corpo.

Mudando hábitos para viver melhor

O novo segredo da vida longa
Ao pesquisarem as quatro regiões onde se vive mais, cientistas descobrem um fator tão
importante para a longevidade quanto a herança genética: o bom convívio social


Você é o humor que você tem
Venenoso ou ingênuo, ele hoje é avaliado não apenas como uma característica individual,
mas como uma ferramenta determinante nas relações pessoais e no ambiente de trabalho


A idade vai chegar
Se as pessoas viverão mais, a lógica indica que se deve planejar a velhice. 
Mas poucos querem pensar sobre isso


Brilhantes e no auge
Alguns dos profissionais mais respeitados do país entre 52 e 88 anos falam sobre o que
é envelhecer e de seus planos para o futuro. A boa notícia: ninguém pensa em parar


Paciência, meu caro...
...a culpa é da biologia. Muitas das diferenças entre o comportamento masculino
e o feminino são determinadas pela genética


O corpo aquecido pela alegria
O bom humor e as emoções positivas fortalecem o organismo e ajudam a chegar à velhice com o ânimo da mocidade


O segredo é não desligar nunca
Leia, estude, jogue, monte quebra-cabeças. O importante é que seu cérebro faça ginástica


O estilo faz o homem e a mulher
A longevidade é uma conquista da civilização. Mas ela vale ainda mais quando
se mantém ao máximo o espírito – e a aparência – da juventude


Quando a auto-ajuda ajuda
Conselhos realmente úteis nos livros que muita gente considera inaproveitáveis


Riqueza escondida
No ranking da qualidade de vida, o interior é melhor

Hora de largar os vícios
Os sexos e o cigarro
Ser homem ou mulher faz muita diferença na hora de abandonar o cigarro. Para elas, a luta é mais dura


A vida sem cigarro
Conheça a história de gente que conseguiu parar de fumar e hoje vive muito melhor


Em doses menores
Terapeutas recomendam combater a dependência química reduzindo aos poucos o consumo


O arsenal aumenta
Aprovado um remédio que corta o prazer de fumar e evita sintomas de abstinência


Por que elas não devem fumar
A incidência de câncer de pulmão cresce mais entre as mulheres do que entre
os homens. A culpa é do cigarro


Apague já o cigarro
Você passou a fumar menos, porque acha que isso é suficiente para manter a saúde? Esqueça. Uma pesquisa dinamarquesa mostra que diminuir o consumo de tabaco não reduz os riscos de morte


Empregados do vício
Profissionais recorrem a drogas e álcool para agüentar o expediente exaustivo


A química do vício
Pesquisadores americanos descobrem por que um fumante acende um cigarro a cada
cinqüenta minutos, em média


Menos e sempre
Pesquisas reafirmam que tomar uma ou duas doses de bebida alcoólica
por dia pode ser saudável para algumas pessoas


A dose certa
Encontrada a quantidade de álcool que evita o infarto

Emoção à flor da pele Algumas músicas nos afetam a ponto de provocar arrepios. O que faz com que essas obras tenham efeito sobre o sistema nervoso autônomo e desencadeiem excitação sensorial? por Eckart Altenmüller, Oliver Grewe, Frederik Nagel e Reinhard Kopiez

Pesquisas revelam que fazer e ouvir música estão entre as principais opções de lazer. De onde vem esse prazer é objeto até agora pouco estudado, mas alguns psicólogos supõem que o estímulo peculiar de melodias e harmonias reside, sobretudo, em uma capacidade de desencadear emoções intensas – um sentimento à flor da pele, como no caso da Paixão segundo São Mateus.

Mas do que exatamente falamos ao nos referir a emoções? Pesquisadores do comportamento as tomam por estímulos aos quais reagimos. No caso da Paixão, resposta a um sinal acústico, reação de involuntário arrepio dos pêlos do corpo – um reflexo desencadeado pelo sistema nervoso autônomo, que se manifesta como que à flor da pele. A avaliação do estímulo poderia ser um susto provocado por uma intensidade sonora repentina, mas também por uma atitude de compadecimento, ao se pensar que um inocente será condenado à morte.

É claro que tudo depende do contexto: ante uma interpretação fraca ou entediante da mesma obra, um ouvinte sonolento – ou até frustrado – dificilmente poderá sentir aquela forma de emoção; o máximo que lhe acorrerá será um inquieto cruzar e descruzar de pernas. Em contrapartida, um ouvinte experiente, que conhece a obra, já fica na expectativa do momento em que a música lhe causará arrepios. E apenas imaginar tal passagem pode despertar as sensações. A psicologia comportamental chama essa possibilidade de “esquema de estímulo-resposta condicionados”. Esse fenômeno pode ajudar a compreender vivências subjetivas que se manifestam por meio da audição musical. A experiência­ intensa, que desencadeia reações do sistema nervoso autônomo, foi apreendida pelo conceito que, em inglês, se convencionou chamar chill.